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Exposição Neobarrocas

Novembro 2014

As artistas escolheram alguns temas tipicamente barrocos – não necessariamente da arte barroca – que estariam ainda presentes. E aí veio a constatação de que estamos imersos num mundo neobarroco: um mundo de extremos, repleto de labirintos e segredos 'secretíssimos', com uma grande praça mundial onde se desenrolam, como num teatro, os dramas da vida – antes observados por Deus, agora observados por todos.

A cada artista coube a tarefa de produzir quadros monocromáticos em tons de vermelho – a homenagear a profunda emotividade daquele estilo histórico – trabalhando em áreas barrocas eleitas como muito marcadamente presentes nos dias de hoje. Nesta mostra encontram-se o labirinto; a harmonia dos contrários; a grande praça e os detalhes da mente de Deus.


O LABIRINTO

Tema barroco por excelência, remete ao estado de espírito da visão de mundo como grande labirinto a ser decifrado, como lugar perigoso onde o ser humano pode facilmente se perder nas descontinuidades mágicas de ilhas que flutuam pelos oceanos – hoje virtuais –, seres encantados, bruxas, anjos e monstros que habitavam os fundos dos mares.
Apesar do ser humano hoje se achar plenamente racional, conectado, 'mapeado' e imerso em redes sociais, o mundo reassumiu muito do labirinto barroco, do fantástico que é tido por real e do caminho que facilmente pode conduzir a um ponto sem saída.

Ariadne

Acrílica sobre madeira
110cm X 160cm
Rosa Calheiros


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Na lenda grega Teseu matou o Minotauro, mas foi incapaz de vencer sozinho o labirinto. Ariadne o salvou ao lhe entregar um fio condutor. Ao sair vitorioso, ele a leva consigo. Porém, a abandona numa ilha onde ela fica para sempre prisioneira. Lá habitava um deus que se apaixonou por ela. Eles vivem juntos até a morte de Ariadne, quando Dionísio – o deus – lançou aos céus a coroa da amada, que imediatamente se transformou em uma constelação.
Na obra Rosa fala do nosso sentimento do mundo como labirinto inexpugnável, como local de crença e perdição. Mas também repleto de esperança em intervenções divinas, em soluções mágicas e inesperadas. Na sequência de esferas se vê a representação dos diversos mundos pelos quais passamos na vida.



Deserto

Acrílica sobre madeira
160cm X 110cm
Ana Vasconcellos


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O mundo como local misterioso, como labirinto infinito a nos atrair. Ana Vasconcellos evoca a ideia de deserto verde, que é o que ocorre em grandes plantações que exploram uma única espécie de árvore. Para a artista surge um paradoxo: ao mesmo tempo em que buscamos segurança na repetição do que já é por nós conhecido, é na indiferenciação extrema que mais nos perdermos.



Naufrágio

Acrílica e massa sobre madeira
160cm X 110cm
Bernadeth Cavalcanti


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O fundo do mar e os destroços de uma nau que se perdeu. Uma rede rota ainda pende. Na obra Bernadeth traz os labirintos do destino no grande 'mar oceano' de água, sangue e sal, mas traz também a esperança em forma de uma luz que vem da superfície.



Fragilidade do Destino

Acrílica e colagem sobre madeira
160cm X 110cm
Mari Brych


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A vida é em si mesma um grande labirinto onde nossos destinos fluem com absoluta incerteza e fragilidade.
Encontros, desencontros, distâncias, surpresas: a cada vez que chegamos a um ponto sem saída um novo destino, um novo labirinto se abre com outro caminho a ser percorrido.


Detalhes da Mente de Deus

É um recorte, uma referência à imensa religiosidade que marcou o primeiro barroco, com sua devoção exacerbada a extremos de desrazão – ou de uma outra razão. Não se trata desta ou daquela expressão religiosa, mas antes de seres humanos imersos numa estesia que fazia do mundo um local repleto de detalhes da mente de Deus, onde tudo tendia a ser percebido como divino dentro de uma lógica onde as certezas da fé conduziam o destino de todos.

A Rosa

Acrílica e massa sobre madeira
160cm X 110cm
Rosa Calheiros


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Rosa nos traz a rosa. Que não é uma rosa, não é uma rosa, não é uma rosa.
A obra é uma referência a um conhecido trecho do poema Sacred Emily de Gertrude Stein que aqui, porém aparece ao contrário. Enquanto a poeta busca retirar as camadas que recobrem a origem do signo, a pintora recobre o signo com a possibilidade de infinitas outras significações.



A Libélula

Acrílica sobre madeira
110cm X 160cm
Bernadeth Cavalcanti


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Você vê a libélula? o peixe? reconhece a carambola? estão quase apagados pela imensa flor ensanguentada. Bernadeth fala de um mundo que se afasta da natureza, que tragicamente se artificializa.



A Formiga

Acrílica sobre madeira
110cm X 160cm
Ana Vasconcellos


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A bailarina no espaço cênico. A vida como teatro. As pesadas cortinas vermelhas. Barrocas.
O mundo fechado sobre si mesmo. A criança que brinca com uma forminha como que disposta a replicar infinitamente a mesma forma, o mesmo mundo. No canto, a esfera imóvel.
Uma formiga, um detalhe da mente de Deus, invade a cena chamando a atenção da menina.
Ana nos fala aqui da necessidade de percebermos os pequenos sinais que nos obrigam a desviarmo-nos do óbvio e a repensar nosso mundo.



A Luz

Acrílica e colagem sobre madeira
110cm X 160cm
Mari Brych


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Como pontos de fuga na escuridão do cotidiano, a própria divindade revela a Si quando nos faz ter o dom de ver. A emanação da luz divina é que nos faz perceber detalhes que podem nos libertar de uma vida percebida como sem saída ou sem sentido. Para Mari os detalhes da mente de Deus são pura luminosidade.


A Grande Praça

Ao contrário do que muitas vezes pode parecer, durante o período barroco os seres humanos transitavam muito pelo mundo e frequentavam espaços públicos em busca de notícias e de informações: iam à praça do comércio, aos sermões nas igrejas e as imensas festas deixando-nos a ideia de que a vida é um grande teatro e o mundo é uma grande praça onde se realiza a vida, tudo sob o olhar onisciente de Deus.
No mundo de hoje esta grande praça acaba sendo a internet, as redes sociais com seus aspectos de onisciência quase absoluta de todos e de tudo, sensação que se revela falsa quando nos deparamos com a internet profunda – a deepweb – que nos soa como os 'segredos secretíssimos' típicos de uma cultura de extremos, onde tudo, como no primeiro barroco, tende ao exagero.

Bit Bit

Acrílica sobre madeira
110cm X 160cm
Bernadeth Cavalcanti


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Bit (BInary digiT) é a unidade mínima de dados que os computadores "entendem". Podem ser negativos ou positivos (são impulsos elétricos). Um conjunto de 8 bits forma um byte. De onde vem as palavras Megabytes, Gigabytes, Terabytes...
Bit bit lembra também o som de tantos aparelhos eletrônicos que habitam (poluem?) nossas vidas.
Para Bernadeth Cavalcanti a grande praça de hoje é esta grande rede comunicacional que transformou o mundo – a Internet - e que se transformou no mundo de muitas pessoas.



Conexos

Acrílica sobre madeira
110cm X 160cm
Ana Vasconcellos


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A obra é uma leitura livre de uma foto que a artista certa vez viu na internet. Três criança, pequenos monges, se encantam com aparelhos luminosos (celulares? jogos?) criando a sensação de ruptura com o isolamento milenar ao qual nos remete aquela cultura.
Conexos nos fala do mundo como um continuo de diferenças que cada vez mais se interliga.



O Maestro

Acrílica e massa sobre madeira
110cm X 160cm
Rosa Calheiros


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01010101000010101010001111 na obra a representação dos impulsos binários elétricos fala da linguagem dos computadores. Pode-se ver um maestro que rege a 'música das esferas' nesta grande praça virtual em que o mundo se transformou.
Os bytes representam todas as letras de todos os alfabetos, todos os sinais de pontuação, acentos e ainda infinitos caracteres especiais. E há muito mais informações que não podemos ver.
Mas será que o computador nos torna realmente mais livres porque estamos conectados e informados?
O corpo do maestro não é humano, mas composto por inúmeras esferas que podem infinitamente se expandir. Suas enérgicas mãos 'esferas abertas', porém, regem uma música inaudível. Esta é a música que queremos? Rosa nos lembra que se deve ter cuidado com a dominação imperceptível a qual a Internet pode nos submeter, orquestrando nossas vidas sem sequer termos consciência de que estamos sendo conduzidos.



Transcendência

Acrílica sobre madeira
160cm X 110cm
Mari Brych


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Para a artista a grande praça é um espaço virtual limitado pela própria tecnologia que a criou. A natureza humana possui vínculos muito mais misteriosos e que transcendem a tudo. A saudade, o sonho e as ligações que habitam as profundezas de nós seguem sendo independentes e libertas de qualquer tecnologia.


Harmonia dos Contrários

A percepção muito vívida de que o ritmo da vida se fazia pela perfeita harmonia do dia e da noite, da vida e da morte, de períodos de festa com outros de luto, tudo fruto de uma ordem imutável estabelecida pela divindade e contra a qual nada havia que pudesse ser feito. Assim, o destino impunha aos seres humanos vivenciar intensamente tudo o que a vida tinha de melhor e de pior: se havia alegria ou se havia dor, que tudo fosse vivido aos extremos.
As imensas contradições internas, longe de abalarem o sistema, eram exatamente o que lhe conferia equilíbrio.

Nós

Acrílica sobre madeira
110cm X 160cm
Ana Vasconcellos


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Masculino e feminino, força espiritual e força física, emoção e razão como contrários harmônicos na visão da artista. A união não existe sem a força recíproca que estabelece e mantém os vínculos.



Selene e o Guerreiro

Acrílica sobre madeira
160cm X 110cm
Rosa Calheiros


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Ártemis, deusa grega filha de Zeus e de Leto, é irmã gêmea de Apolo que, por ter nascido primeiro, ajudou a mãe no trabalho de parto do irmão. Horrorizada com as dores que viu, pediu ao pai que lhe concedesse a graça de permanecer solteira. Zeus lhe deu então arco e flechas de prata e a tornou guerreira, dona dos bosques, da noite e da lua.
Segundo uma das muitas lendas sobre a deusa – que também é conhecida como Senhora dos Bosques –, ela teria criado um menino cuja mãe morrera no parto e o teria educado para, como ela, ser um guerreiro. Esta seria a origem de São Jorge e daí sua vinculação à noite e à lua. Ártemis foi cultuada também como Selene, deusa da lua.
Na obra Selene e o Guerreiro Rosa Calheiros expressa sua visão da harmonia dos contrários na luta do bem contra o mal. Como elementos do quadro podemos perceber São Jorge menino, a lua, o cavalo, a serpente-dragão e o ovo que envolve e dinamiza a criação, tudo girando sobre um espaço-céu vermelho pontilhado de estrelas.



Reinos

Acrílica e massa sobre madeira
160cm X 110cm
Bernadeth Cavalcanti


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A harmonia dos contrários aparece como um tapete de folhas que nos remete ao frágil, ao transitório, ao natural ao qual se sobrepõe uma pedra preciosa lapidada representando a dureza, a permanência e a cultura presente na arte de lapidar. A pedra é dura, porém é transparente e permite ver as folhas opacas que o vento lançou sobre a terra. Reinos vegetal e mineral, natureza e cultura, transparência e opacidade, vento e quietude, harmonicamente contrários na visão de Bernadeth Cavalcanti.



Entropia

Acrílica e colagem sobre madeira
160cm X 110cm
Mari Brych


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Entropia é o exaurimento da energia. A palavra é geralmente usada para descrever o processo natural e irreversível de desgaste da energia dos corpos.
Nesta obra a artista se refere à plena energia do início da vida e seu lento desaparecimento ao longo do tempo, algumas vezes abruptamente aguçado por uma causa inesperada.
Vida e morte: contrários harmônicos que permeiam a existência humana.


Exposição Neobarrocas

Curadoria: Patrícia Thedin
Novembro/2014 - Ilha do Governador, Rio de Janeiro, Brasil.

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